STOP: QUEREMOS CONTINUAR A FAZER MÚSICA – Enfoque #93 com João Pimenta
enfoque
No coração do Porto, um espaço outrora vibrante e essencial para a cena musical independente enfrenta um silêncio forçado. O programa “Enfoque” trouxe à luz a complexa e preocupante situação do Stop, um centro comercial peculiar que, ao longo de décadas, se tornou um lar para centenas de músicos, bandas e projetos culturais.
O convidado desta edição, João Pimenta, músico com 15 anos de vivência no Stop e membro da banda Os Overdoses, pintou um quadro detalhado dos problemas que culminaram na recente interdição de 105 das 126 lojas do espaço. Mais do que um simples conjunto de salas, o Stop era um ecossistema musical único, um ponto de encontro onde ideias floresciam, bandas se formavam e a cultura underground ganhava vida.
Um Legado em Risco: A História do Stop
Instalado num edifício datado de 1982, outrora uma garagem de automóveis, o Stop floresceu como um centro comercial com uma particularidade: muitas das suas lojas transformaram-se organicamente em salas de ensaio e pequenos estúdios. No entanto, essa metamorfose nunca foi devidamente acompanhada pelas necessárias licenças comerciais adequadas à atividade musical.
Como explicou João, juridicamente, o espaço sempre foi encarado como um centro comercial, com licenças de lojas tradicionais – um cenário que nunca se encaixou na realidade das atividades ali desenvolvidas. A Câmara Municipal, ao longo dos anos, permitiu essa situação, deixando que o Stop e outros espaços similares, como o Dallas, operassem numa espécie de limbo legal.
O Estopim da Crise: Segurança e Burocracia
A recente decisão da Câmara de interditar grande parte do Stop surge sob a égide da segurança contra incêndio. João recorda alguns incidentes isolados no passado, mas ressalta que o condomínio já estava em processo de implementação das medidas de segurança exigidas pelas normas europeias – instalação de carretéis de incêndio, alarmes e extintores.
Apesar dos esforços dos inquilinos e da administração do condomínio, a falta de um projeto de arquitetura formal que contemplasse as necessidades de segurança e insonorização das salas de ensaio tornou-se o principal obstáculo. A Câmara alega não poder intervir diretamente por não ser proprietária nem inquilina do espaço, encontrando-se numa encruzilhada burocrática.
O Impacto Devastador na Comunidade Musical
O encerramento abrupto do Stop deixou centenas de músicos e profissionais da área em compasso de espera. Salas de ensaio seladas significam projetos musicais paralisados, gravações adiadas e, para muitos, uma significativa perda financeira, especialmente numa época de festivais de verão e intensa atividade musical.
João Pimenta enfatizou a singularidade do Stop como um espaço de convivialidade e sinergia que não se encontra noutros locais, como a Casa da Música. Ali, músicos de todos os géneros musicais coexistiam, colaboravam e criavam laços, transformando o espaço num verdadeiro celeiro cultural independente.
Luz ao Fundo do Túnel? Negociações e Esperança
Apesar do cenário sombrio, as negociações entre os representantes dos inquilinos e a Câmara Municipal têm ocorrido. Foram apresentadas propostas, incluindo a possibilidade de reabertura das salas por um período limitado com a presença de bombeiros, enquanto se busca uma solução definitiva.
A necessidade de apresentar um projeto de arquitetura detalhado e a complexidade da situação legal e fundiária do Stop continuam a ser os principais desafios. A Câmara também acenou com possíveis alternativas de espaços, como o Alto e a Escola Pires de Lima, mas a viabilidade dessas opções ainda é incerta, especialmente no que diz respeito a questões de ruído e adequação para a atividade musical.
Um Apelo à Sensibilidade e à Ação
A situação do Stop é mais do que um problema de licenciamento e segurança; é um reflexo da importância dos espaços informais e acessíveis para a vitalidade cultural de uma cidade. A mobilização da comunidade musical, com recentes manifestações de apoio, demonstra o valor inestimável que o Stop representa para o Porto.
João Pimenta expressou a esperança de que a Câmara Municipal reconheça a urgência da situação e a importância de preservar este polo cultural único. A busca por soluções criativas e a colaboração entre todas as partes envolvidas são cruciais para garantir que a cortina de fumo que paira sobre o Stop se dissipe, permitindo que a música portuense volte a ecoar com força e liberdade.
